Daniel e Dinei estão agora em São Paulo. Dinei se diverte com as mudanças de ambiente que Daniel lhe proporciona, o que lhe parece pura mágica.
- Mamma mia! Isso é muito louco! Num piscar de olhos e foi! Eu nunca vou me acostumar com isso!
- Se você soubesse como isso é difícil e quantas pessoas estão trabalhando conosco agora para tornar essa missão possível, aí sim você iria achar mesmo “muito louco”.
- Tem mais gente aqui?
- Tem, mas não estão tão materializados quanto eu.
- Mas você não é um espírito? Ninguém viu você lá no acidente.
- Sim, porém, para ficar aqui na crosta terrestre com você, eu tive que fazer muitas modificações no meu perispírito e materializá-lo um pouco mais para me permitir interagir melhor neste plano, mas isso é outra história e temos pouco tempo.
- E os outros? Estão aqui do meu lado?
- Depois falaremos disso, está bem?
- Está bem, mas que é estranho é! Que cheiro ruim. Que lugar é esse, Daniel?
- Nós estamos em uma favela, nos arredores de São Paulo, e o cheiro que você está sentindo vem dos eflúvios emanados deste ambiente.
- Que lugar! Não estou me sentindo muito bem...Estou ficando meio zonzo...
Daniel leva Dinei para uma das favelas mais violentas de São Paulo, onde vivem muitos pobres trabalhadores, mas infelizmente, nesta em particular, vivem também os piores bandidos desta zona distrital da cidade. Dinei ainda não tem nenhuma defesa espiritual para se proteger dos fluidos não muito bons do ambiente, deve se apoiar em Daniel para compensar seu estado muito grosseiro.
- Mantenha sua mente concentrada em mim, Dinei, logo vai passar o mal-estar. Isso mesmo continue, não se deixe levar por esta atmosfera pestilenta. Aqui lhe mostrarei, na prática, tudo o que lhe disse sobre os fluidos.
- Não posso ficar só com a teoria? Este lugar me dá medo!
- Você precisa compreender realmente o que lhe foi dito até agora, para isso, além de saber, precisa sentir por si mesmo os efeitos que o mau uso do livre arbítrio causa na humanidade.
- Livre arbítrio?
- Sim, Nosso Pai, em sua infinita bondade, nos dá a liberdade de ter e ser o que quisermos, a partir de nossas próprias experiências e isso nos leva fazermos o que quisermos de nossas vidas. Às vezes acertamos, noutras erramos.
- Até fazer o mal?
- Até fazer o mal. Tudo nos é permitido, mas nem tudo nos convêm. Por isso existem vampiros, obsessores e outros espíritos não muito bons, Deus não violenta a nossa vontade. Se depois de desencarnar, um irmão, mesmo depois de toda ajuda possível, ainda quiser viver erradamente, ele poderá viver assim. Ele estará apenas retardando sua evolução e deixando-a mais difícil, pois cada vez que você faz o mal para alguém, estará se endividando e um dia terá que pagar esse débito.
- Karma?
- Isso mesmo Dinei, o karma, ou mais precisamente a lei de ação e reação. Toda vez que se faz uma boa ação, a reação será boa, se faz uma má ação, a reação será ruim, na mesma proporção da ação praticada.
- Olho por olho, dente por dente! Meio violento isso!
- Não, Dinei, muito longe disso! O amor de nosso Pai jamais iria permitir tal crueldade, deixa eu lhe dar um exemplo: Digamos que você magoou seu pai por algum motivo e tempo depois se arrepende, você não gostaria de uma chance de lhe pedir desculpas?
- É claro!
- Pois bem, Deus não fará seu pai magoá-lo para você aprender a lição, em vez disso lhe dará a chance de você desculpar-se com ele. Porém, caso não tenha se arrependido e aprendido a lição, Deus lhe possibilitará ser magoado por alguém, para que possa aprender vivênciando a mágoa que praticou. É pura bondade a lei de ação e reação.
- É simples assim?
- Jesus não disse: Colherás o que plantaste? É simples assim. Ninguém vai colher batatas se plantou arroz, não é?
- Eu não estou agüentando esse cheiro, e o ar aqui é difícil de respirar, podemos ir embora?
- Ainda não, vamos até aquele barraco ali, ver as pessoas lá de dentro, é lá que está o motivo dessa sua lição.
- Ô escolinha diferente!
Eles entram em um barraco feito de tábuas velhas, chão de terra batido e muito sujo, dando uma horrível impressão de abandono e desleixo.
- Olhe bem, veja esses homens e mulheres, são traficantes, assassinos e viciados. Olhe em volta deles, o que você vê?
- Mãe do céu! Estão cheias de coisas horríveis, coisas que parecem gentes deformadas. E que são as coisas pretas em volta deles?
- Aquelas coisas pretas são deformações do perispírito. Eu lhe falei antes que os semelhantes se atraem, pois ai está! Esses seres deformados que você vê são espíritos viciados, cruéis, sugando as pérfidas energias dessa gente. Quando eles desencarnarem, o que não está muito longe, serão escravos e gado de pasto para esses seres da escuridão. Aqui lhes parecerá o paraíso comparado para onde serão levados por essas almas negras. Eis o mau uso do livre arbítrio em curso, eles poderiam ser o que quisessem, mas escolheram ser a escória da terra.
- E eles não terão salvação?
- Claro que sim, mas até que compreendam sua situação, poderá passar séculos. Lembre-se do que eu disse: Deus não poderia colocá-los a força em um dos muitos hospitais que existem no astral, pois eles não seriam felizes lá neste momento. Lá não teria cigarro, drogas e mulheres para eles abusarem, sendo assim, Deus permite, em sua infinita misericórdia, que eles estejam onde se sintam felizes. Quando perceberem o erro que estão cometendo, bastará pedir o auxílio de nosso Pai e Ele lhes mandará o imediato socorro. Venha comigo, vamos ver o outro lado da moeda.
- Hein?
- O lado bom deste lugar, Dinei, Deus, como já disse, dá infinitas oportunidades aos seus filhos e aqui perto, dois barracos para baixo, há uma missionária da luz trabalhando por esse povo, venha.
- Vamos andando então, se é tão perto...
- Pensei que você tinha gostado de desaparecer e aparecer como num passe de mágica?
- Gostar gostei, só não estou afim de más surpresas como essa!
- Veja, é ali. Note a diferença da atmosfera logo na entrada deste lugar, mesmo a aparência exterior é menos feia, não é?
- É, e tem uma luz diferente em volta. Quanta gente na porta. Para que essa fila?
- Você nem notou, mas essa fila é de desencarnados, Dinei, esperando a hora de entrar para assistir a palestra que ela fará.
- Estão todos mortos? Não vem gente viva aqui?
- Estão mortos iguais a você. Qual é a surpresa? E sim, vem muita gente encarnada aqui também.
- E o que eles fazem aqui?
- Aprendem, vem ouvir as palavras do nosso Grande Irmão Jesus.
- Mas por que aqui? Afinal, não existe outro lugar para aonde vão os mortos? E os outros planos que você falou?
- À cada um segundo seus méritos, Dinei, lembra? Só se colhe o que se plantou. Esses irmãos estão mais próximos da crosta terrestre, em um lugar chamado Umbral. É um lugar de passagem para todos que morrem. Pode ser um bom lugar quanto ruim, depende do estilo de vida que cada um teve na Terra. Há nele vilas, hospitais, pequenas cidades. De um lado quase não há luz, em outro, a luz é como de final do dia, com o sol se pondo no horizonte.
- E por que eles não aprendem lá mesmo?
- Aqui eles não estão só aprendendo, estão também em tratamento. Esses irmãos são de colônias umbralinas de socorro ou de hospitais de lá. Eles têm os perispíritos muito carregados, precisam limpar esses fluidos materiais que carregam. Para isso os médicos e ajudantes precisam do concurso dos encarnados, para usar suas energias perispirituais nos tratamentos destes enfermos.
- Não entendi...
- Os enfermos têm necessidades ainda materiais de tratamento. Por isso usamos as energias dos médiuns para esse propósito, plasmando os remédios necessários para cada um ou operando-os através das vibrações mediúnicas emanadas dos médiuns. Fica mais fácil curar e limpar feridas materiais com energias mais materializadas. Compreendeu?
- Mais ou menos...
- Vamos ver na prática então, vamos entrar.
- Papagaio! Como é possível isso? Como é que o barraco ficou deste tamanho? Ou você já levou a gente para outro lugar?
Daniel sorri, se diverte com o rosto espantado de Dinei.
- Não, Dinei, é o próprio barraco mesmo. A espiritualidade usa o espaço diferentemente, as leis físicas da matéria densa não se aplicam em outros planos. O que você vê existe realmente, esse grande anfiteatro foi construído recentemente, para os fins de tratamento que você verá agora.
- Eu estou mais cismado do que nunca! Por que você está me mostrando tantas coisas? O que você quer comigo? Isso não tem lógica, eu não vou conseguir entender tudo de uma vez só e você sabe disso, então por que?
- Eu já lhe disse. No momento oportuno você vai saber o porque disso tudo, mantenha sua mente apenas nos ensinamentos, acredite, é muito importante para o seu futuro!
- Mas que futuro? Eu já morri, lembra? Catapumba! Bati o carro, virei presunto e pronto!
- Pare com isso, parece um menino emburrado. Venha, quero lhe apresentar o mentor deste lugar.
- Vivo ou morto?
- Dinei, não temos tempo para gracinhas, leve tudo muito a sério agora, e com muito respeito!
- Está bem, desculpe, só quis descontrair um pouco.
- Lá está ele...João, que saudade!
Daniel saúda João, espírito de grande bondade, dirigente espiritual do centro. Os dois são amigos de muitas vidas. João os cumprimenta:
- Daniel, meu querido irmão, me disseram que viria! Estou muito feliz por revê-lo, pena que seja em uma hora tão atribulada. Mas estou muito contente em poder ajudá-lo com sua missão...Esse é o seu...Hã...Pupilo?
- Sim, seu nome é Dinei.
- Como vai, Dinei? O Daniel está lhe tratando bem?
- Muito prazer! Sim senhor, está sendo muito paciente comigo.
- Não deixe que ele lhe faça o que fez comigo, me deixava praticamente louco com suas teorias sobre o universo. Se bem que algumas se mostraram intrigantes...
- Infelizmente não tenho tempo para falar sobre essas coisas com ele, João, há coisas mais urgentes.
- Sei, é verdade, pois fiquem a vontade. A casa é sua, Daniel, espero vê-lo em breve com mais liberdade. Seja feliz, Dinei, que nosso Pai lhe ilumine cada vez mais. Até logo, Daniel, sentirei saudade.
- Obrigado João, eu também sentirei saudade sua, assim que puder irei ter contigo.
- Obrigado, Seu João.
- Adeus, irmãos.
- Puxa, que luz tem esse homem, é um misto de azul com amarelo faiscante, é de impressionar! E parece tão bom, senti vontade de chorar...
- Você sentiu o amor que emana dele, guarde essa impressão com carinho, talvez demore a vê-lo novamente. Você sentiu a diferença do ar aqui?
- Sim, é bem mais leve e um pouco perfumado, é por causa dos fluidos bons que vem do Seu João, não é?
- Não só dele, há muitos trabalhadores aqui, limpando e fluidificando o ambiente para o começo dos trabalhos desta casa. Os médiuns também fazem parte disso, quando elevam seus pensamentos a Deus, vibrando palavras santas através das preces. Veja aquela senhora na ponta esquerda da mesa, ela é a dirigente deste centro, ela está a vinte anos nesta favela, espalhando bondade e caridade neste lugar.
- Posso ver sua luz, não é tão forte como a do Seu João, mas é muito bonita também.
- A luz que você vê em volta dela chama-se corpo energético ou aura, todos encarnados tem, a aura é mais ou menos brilhante de acordo com os pensamentos e sentimentos que se tem, variando de cor também pelo mesmo motivo.
- Já tinha lido alguma coisa sobre isso. Por que as pessoas não vêem a aura umas das outras?
- Algumas podem ver, por serem mais sensíveis, a maioria não porque perderam esse tipo de visão na infância. Quando somos bebês podemos ver naturalmente a aura, depois vamos nos embrutecendo os sentidos e então perdemos o dom.
- Que pena. Ela é tão bonita de se ver...
- Tudo bem, no futuro será normal as pessoas se verem como realmente são, é só uma questão de tempo e aprendizagem. Venha ver as pessoas tomando passes.
- Tomando o que?
- Passe. É uma doação de energia de uma pessoa para outra. Olhe os médiuns, os que estão em pé, vão começar os passes.
- Aqueles de branco são espíritos, não é?
- São. Olhe como os médiuns doam suas energias e o efeito que faz no campo energético dos assistidos.
- Parece que clareia um pouco a aura deles, mas não de todos, e o que estão fazendo os espíritos ali?
- O passe não é feito apenas por encarnados, senão seria apenas uma troca de energias, mas precisa do concurso dos irmãos da espiritualidade para ter seus efeitos mais profundos. Aqui há médicos, enfermeiros, psicólogos, engenheiros biofísicos, uma legião de benfeitores para ajudar na recuperação física e psíquica dos irmãos necessitados. Olhe mais de perto, para o perispírito desta mulher.
- Vejo algumas manchas de cores diferentes uma das outras, mas todas escuras...
- Esta mulher tem muita mágoa em seu coração e uma vida muita desregrada, infelizmente, se ela não mudar seu foco mental, poderá ter câncer em muito pouco tempo. Agora veja como a espiritualidade trabalha em seu corpo: O médium está doando a energia que é trabalhada pelo médico espiritual no perispírito dela, ele está limpando aquelas manchas o máximo possível, enquanto isso aquele enfermeiro vibra pensamentos de amor para seu cérebro e naquele canto o mentor dessa mulher conversa com um psicólogo sobre o melhor meio de trazê-la para a luz novamente, de acordo com sua possibilidade, potencializada pelos obreiros do amor aqui presentes. E isso é apenas um caso de milhares. Esta ainda pode se ajudar, muitos nem conseguem sequer receber o mínimo de luz, como aquele rapaz que você falou que não clareou a aura. Ele está muito perturbado e cheio de vícios, físicos e morais, ele terá que ser muito persistente para sair do lamaçal onde entrou.
- E ninguém pode ajudá-lo?
- Claro que sim! Como você acha que ele veio parar aqui? Seu mentor pediu ajuda e, praticamente o arrastaram para cá.
- Ou vai ou vai!
- É, mas não se pode fazer isso sempre.
- O livre-arbítrio...
- Muito bem Dinei vejo que está surtindo efeito seu aprendizado.
- Obrigado! Obrigado, eu mereço!
- Pai estou criando um monstro! Vamos até aquele quarto, vamos ver os trabalhos que estão fazendo ali...
Daniel leva Dinei a sala de desobsessão, onde ficam os espíritos mais necessitados de ajuda. Alguns até necessitam do uso de força para permanecerem em tratamento.
- Nossa mãe! Eu pensei que aqui só tinha gente boa! O que fazem estas pessoas aqui? E por que algumas estão presas assim, amarradas?
- Essas pessoas são obsessores, Dinei, das pessoas que vieram hoje aqui.
- Obsessores? O que são?
- São espíritos que ficam atormentando ou usando os fluidos das pessoas. Tem diversas categorias de obsessão, alguns ficam próximos por afinidade de pensamentos ou vícios, como o de cigarro, por exemplo, ninguém fuma só. Outros vieram de outras vidas com sede de vingança ou amor obsessivo. Lembra que você nem soube que desencarnou?
- É...
- Pois então, esses irmãos pensam que ainda estão vivendo em outra existência e querem de toda forma prejudicar quem os prejudicou anteriormente. Outros já sabem que desencarnaram, mas mesmo assim, por causa do ódio que carregam, acompanham seus algozes do passado até hoje, tentando a estúpida vingança.
- E o que acontece aqui? Eles ficam presos?
- Aqui eles poderão falar, através dos médiuns, sobre suas raivas e os médiuns tentarão convencê-los a voltarem a razão. Eles ficarão por pouco tempo aqui, a maioria adormecida, serão tratados e depois liberados aos seus livres arbítrios. A principal maneira que as pessoas tem de evitarem a obsessão é a reforma íntima, que muito poucos querem ou conseguem fazer. Muitas desgraças poderiam ser evitadas se ouvissem mais os seus mentores do que os obsessores.
- Daqui eles voltam a obsidiar as mesmas pessoas?
- Se elas não mudarem suas atitudes, fazerem a reforma íntima da qual falei, com certeza a maioria serão obsidiadas novamente.
- Tudo aqui é bem diferente do que eu pensei sobre os centros espíritas, aquele negócio de gritaria, espíritos aparecendo a torto e a direito. Na verdade essas pessoas estão aqui só para ajudar mesmo, não é?
- É um trabalho muito difícil, as pessoas que freqüentam aqui não vêem o que você está vendo, e pensam que nada está acontecendo em volta delas. No entanto elas estão sendo tratadas e, na medida do possível, ajudadas no cotidiano de suas vidas. Os centros também espalham as palavras sagradas dos ensinamentos de Jesus, e seu único mandamento: Ama teu próximo como a ti mesmo. Se isso fosse seguido, nada mais seria necessário para a paz reinar na terra.
- Quanta coisa que eu nem fazia idéia! Tenho que voltar a mesma pergunta: por que você está me mostrando isso tudo?
- Para que você guarde em seu íntimo, para lembrar quando for necessário.
- E eu terei necessidade destes conhecimentos para que? Quando?
- Calma, temos mais para conversar e para ver, você saberá de tudo no momento certo, está bem?
- Com todo respeito, Daniel, você está ficando chato com essa mesma resposta!
- Então pare de ser chato com a mesma pergunta.
Os dois riem gostosamente, acalmando a tensão própria do aprendizado.
- Está bem...Para onde vão os “chatos” agora? Eu gostaria de ir para casa, minha família precisa saber que eu estou vivo. Tecnicamente estou morto, porém eu vivo, vai ser complicado explicar isso! Não quero nem ver o susto deles!
- Vamos descansar um pouco em algum lugar bem bonito, você deve ter algumas perguntas sobre o que viu aqui, não é?
- Tenho sim, todas!
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